Música no Autismo: Porque a Música é tão Importante no Desenvolvimento da pessoa TEA

Música no Autismo: Porque a Música é tão Importante no Desenvolvimento da pessoa TEA

Já ouvi muito pais de pessoas com TEA dizerem “como ele gosta de música?”, “Ele
dança quando ouve música”, “ele tenta cantar”, ou “o único momento que meu filho verbaliza,
é quando está cantando…” Essas declarações fazem parte do contexto de entrevista inicial
na clínica de Musicoterapia, e creio que você que está lendo, pode estar se identificando com
alguma ou todas as declarações acima. Mas qual o real motivo para tamanha facilidade com
a música e seus elementos.
Indivíduos autistas apresentam atividade reduzida em áreas auditivas
especificamente destinadas ao processamento da comunicação verbal (Kujala et al., 2013,
Samson et al., 2011). Isso ocorre devido à diminuição dos níveis de atividade dos complexos
temporais secundário e terciário, que estão relacionados às regiões auditivas no giro temporal
superior. Os sons da linguagem que devem ser processados nessa região são processados
principalmente no córtex auditivo primário.
Por esse motivo, a linguagem não atrai a atenção de crianças com autismo da mesma
maneira que pode atrair crianças com desenvolvimento típico. Portanto, a compressão
acústica da linguagem não é entendida igualmente e, portanto, muitas crianças autistas
evitam o contato através da linguagem verbal. Em outras palavras, eles evitam a linguagem
verbal porque não a entendem e não porque não querem se comunicar.
Como a música é processada principalmente no córtex auditivo primário, onde o
indivíduo com autismo não tem deficiências, torna-se um meio de comunicação mais
interessante para ele do que a linguagem.
Além disso, a música tem uma previsibilidade que facilita o entendimento e a
expressão, principalmente devido à manutenção de padrões repetitivos (Kalas, 2012). Esses
padrões parecem se comportar de maneira previsível ou familiar para as pessoas autistas,
resultando em um sentimento reconfortante e sociável por elas, em vez de um sentimento de
confusão.
Ainda sobre o processamento musical-auditivo, a discriminação e a compreensão no
autismo, pessoas com autismo processam pequenas melodias melhor do que indivíduos
típicos do desenvolvimento. Eles apresentam alguma dificuldade em identificar e discriminar
melodias complexas (Bouvetta, 2014).
Alguns estudos têm indicado outras peculiaridades do processamento auditivomusical principalmente ao que se refere à compreensão e expressão de sentimentos
atribuídos à música (Lai et al., 2012). A percepção de sentimentos em expressões faciais é
um dos grandes desafios para pessoas com TEA (Peterson et al., 2012). O conteúdo emotivo
dessas expressões torna-se muitas vezes imperceptível para estes indivíduos. Todavia, a
percepção de sentimentos como alegria e tristeza numa peça musical é processada da
mesma forma nos indivíduos com TEA quando comparados com pessoas de
desenvolvimento típico (Quintin et al., 2012). Em outras palavras, o entendimento de
sentimentos num contexto musical torna-se mais claro para um sujeito com TEA do que a
visualização de expressões faciais (Bhatara et al., 2010). O mesmo pode ser dito para a
expressão de sentimentos. Muitas vezes as pessoas com TEA têm dificuldade para expressar
através de gestos, expressões faciais e através da linguagem verbal o que sentem (Peterson
et al., 2012). Entretanto, no contexto musical há uma manifestação de emoções mais evidente
que permite muitas vezes que a música seja um facilitador de comunicação para estes
indivíduos (Quintin et al., 2011). Ainda, indivíduos com TEA possuem mais facilidade para
memorizar a percepção de alturas sonoras em comparação com indivíduos típicos. Estes
fatores descritos acima evidenciam ainda mais a possibilidade do uso da música para fins
terapêuticos, como já realizado e evidenciado pelos estudos da musicoterapia (Gattino et al.,
2014).
Os indivíduos autistas têm uma capacidade focal maior de detectar as notas que
compõem um acorde em comparação com as pessoas sem autismo. As pessoas autistas têm
a facilidade de processar informações espaciais específicas (Gattino, 2015).
Mas o que eu pai posso/devo fazer?
Primeiro de tudo procurar um musicoterapeuta porque esse profissional melhor do que
ninguém, é capaz de usar os vários estímulos musicais para desenvolver seu filho, e não só
isso mas também ele vai interpretar as sonoridades trazidas até ele, para desenvolver-lhe as
potencialidades. Esse profissional fez graduação ou especialização. e estudou: Música,
Neurologia, Neuroanatomia, Psiquiatria, Psicologia, Psicologia da Música, Anatomia,
Filosofia, entre outras matérias que compõem a grade do curso, para um sábio manuseio da
música com o paciente/cliente. E além de tudo, procure um profissional que tenha
experiência, interesse e empatia com a causa do autismo, sim além das matérias acima
citadas, essas características também são necessárias.
Mas de qualquer forma, são muitas as terapias e eu não consigo por agora investir
em um tratamento de Musicoterapia, no nosso próximo post, farei menções, a estímulos com
música em casa, dentro da minha experiência com o que deu mais certo com as crianças e
até adultos TEA, não perca!
Referência Bibliográfica:
Bouveta et al. Auditory Local Bias and Reduced Global Interference in Autism. Cognition.
Volume 131, Issue 3, June 2014, Pages 367–372.
GATTINO, Gustavo Schulz, RODRIGUES, Igor Ortega, ARAÚJO, Gustavo Andrade de.
Evidências do Processamento Auditivo-Musical nos Transtornos do Espectro Autista.
Anais do X Simpósio de Cognição e Artes Musicais – 2014 Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
GATTINO, G. S. Musicoterapia e Autismo: teoria e prática. São Paulo: Memnom, 2015.
KALAS, Amy. Joint Attention Responses of Children with Autism Spectrum Disorder to
Simple versus Complex Music. Journal of Music Therapy, Volume 49, Issue 4, Winter 2012,
Pages 430–452, https://doi.org/10.1093/jmt/49.4.430
KUJALA, Teija M. The Neural Basis of Aberrant Speech and Audition in Autism Spectrum
Disorders. Neuroscience & Biobehavioral Reviews Volume 37, Issue 4, May 2013, Pages
697-704.
SAMSON, Fabienne. Speech acquisition predicts regions of enhanced cortical response
to auditory stimulation in autism spectrum individuals. Journal of Psychiatric Research
Volume 68, September 2015, Pages 285-292

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