Música, Musicoterapia e Apraxia da Fala na Infância

Música, Musicoterapia e Apraxia da Fala na Infância

Karylla Amandla de Assis Paula
Kelly Cristina Tobias de Sousa
Maio/2020
Segundo a Associação Americana de Fonoaudiologia, a Apraxia de Fala na infância é
um “Distúrbio neurológico motor da fala na infância, resultante de um déficit na consistência
e precisão dos movimentos necessários a fala, na ausência de déficits neuro-musculares”
(ASHA, 2007). Ou seja, Apraxia de Fala na Infância afeta a habilidade da criança em produzir
e sequencializar os sons da fala da forma que seria comum à sua idade. A criança com apraxia
tem a ideia do que quer comunicar, mas seu cérebro falha ao planejar e programar a sequência
de movimentos ou gestos motores da mandíbula, dos lábios e da língua para produzir sons e
formar sílabas, palavras e frases.
“Musicoterapia é um campo de conhecimento que estuda os efeitos da música e da
utilização de experiências musicais, resultantes do encontro entre o/a musicoterapeuta e as
pessoas assistidas. A prática da Musicoterapia objetiva favorecer o aumento das possibilidades
de existir e agir, seja no trabalho individual, com grupos, nas comunidades, organizações,
instituições de saúde e sociedade, nos âmbitos da promoção, prevenção, reabilitação da saúde
e de transformação de contextos sociais e comunitários; evitando dessa forma, que haja danos
ou diminuição dos processos de desenvolvimento do potencial das pessoas e/ ou comunidades
(UBAM, 2018).
O musicoterapeuta é o profissional de nível superior ou especialização, com formação
reconhecida pelo MEC e com registro em seu órgão de representação de categoria. Ele/a é
habilitado/a a exercer a profissão no Brasil. Ele/a facilita um processo musicoterápico a partir
de avaliações específicas, com base na musicalidade e na necessidade de cada pessoa e/ou
grupo. Estabelece um plano de cuidado e um processo musicoterápico a partir do vínculo e de
avaliações específicas atendendo às premissas de promoção da saúde, da aprendizagem, da
habilitação, da reabilitação, do empoderamento, da mudança de contextos sociais e da
qualidade de vida das pessoas, grupos e comunidades atendidas. O musicoterapeuta pode atuar
em áreas como: Saúde, Educação, Social / Comunitária, Organizacional, entre outras” (UBAM,
2018).
A música conta com uma série de características que nos possibilita acessar canais
comunicativos. Sem dizer uma palavra a música nos permite expressar emoções, estados, idéias
e pensamentos. A experiência musical, em musicoterapia, é um meio facilitador de múltiplos
modos criativos para a comunicação. A musicoterapia então, contribui de maneira efetiva com
outras disciplinas da área da linguagem e comunicação (PFEIFFER e ZAMANI, 2017).
O primeiro dos protocolos que utilizou elementos musicais com objetivo de alcançar
ganhos relacionados à linguagem – e um dos mais difundidos – foi a Melodic Intonation
Therapy (MIT), ou Terapia de Entonação Melódica (TEM). Desenvolvida na década de 1970,
para o tratamento da afasia em adultos que sofreram AVE e, posteriormente, utilizada para o
tratamento da AF, a TEM baseia-se na entonação de sons, palavras ou sentenças cotidianas (em
inumeráveis repetições, com caráter intensivo), em dois tons (normalmente em terças),
acompanhadas de batidas/toques da/na mão esquerda do paciente, e seu objetivo é a
estimulação do hemisfério direito do cérebro, para que assuma as funções da fala que jaziam
no hemisfério esquerdo danificado (PALAZZI, 2015). Apesar do uso da entonação melódica,
a TEM original não é um protocolo musicoterápico, mas fonoaudiológico (HURKMANS et al,
2015). Da TEM originaram-se outras abordagens e adaptações, como a Modified Melodic
Intonation Therapy (MMIT) e a Thérapie Mélodique et Rythmée (TMR) – esta voltada para os
falantes de língua francesa e adaptada para outras línguas –, versões paliativas da TEM, que
objetivam dar, ao menos, ferramentas mínimas de comunicação aos pacientes com graves
distúrbios da fala, e a brasileira Terapia de Entonação Melódica Adaptada (TEM Adaptada)
(PALAZZI, 2015). Mas surgiram, também, protocolos com enfoque propriamente
musicoterápico para tratamento da afasia, como o protocolo Kim & Tomaino, o SIPARI –
Singen Intonation Prosodie Atmung [Respiração] Rhythmusübungen Improvisationen e a
SMTA – Speech-Music Therapy for Aphasia (PALAZZI, 2015). Todos esses exigindo muitas
habilidades musicais do profissional de MT (dentre as quais, composição e transposição
musicais) (Revista Brasileira de Musicoterapia) .
Outro método, também da Musicoterapia, descrito por Camila F. Pfeiffer e Cristina
Zamani (2017) é o da Vocalização Terapêutica, onde os aspectos rítmicos e melódicos da
música, são utilizados de forma dirigida para trabalhar a articulação e inteligibilidade da fala.
Através dessa abordagem, busca-se fortalecer e ampliar a capacidade respiratória, intensidade
vocal, projeção, controle do uso da voz, aumento da consciência dos fonemas, conectividade
entre as sílabas e palavras, aumento do tempo de fonação, nuances melódicas e prosódicas da
fala e sua dinâmica.
A musicoterapeuta Loewy (1995 p. 49 é; tradução livre) advoga que a linguagem se
desenvolve musicalmente em três “Estágios Musicais da Fala”, nos quais a aquisição e
produção de sons é vista em “fases consecutivas de um contexto de desenvolvimento e
apresentadas como indicadores do desenvolvimento mental, físico e emocional” da criança
fornecendo um “meio de entender o nível de atividade vocal que ocorre no contexto pré verbal”.
A autora propõe que a linguagem deve ser entendida em um domínio musical, antes que em
um contexto cognitivo (LOEWY, 1995). No período pré verbal são aprendidos os aspectos
essenciais da prosódia, ou seja, a capacidade de selecionar, de forma consciente ou não, os
elementos musicais da fala (dinâmica, ritmo, timbre) para formular respostas e expressar ideias
e desejos (LOEWY, 2004). Portanto problemas nesse período podem levar à AFI.
Os instrumentos citados acima, partem do princípio de que a música como a função
filogeneticamente mais antiga, é processada pelos dois hemisférios, ao escutar e produzir
música, os elementos que te constituem – estrutura temporal, duração, simultaneidade, ritmo,
controle motor, entonação, melodia e timbre – são trabalhados e apresentam familiaridade com
os elementos da fala (ALDRIDGE, 2005).
Por essa razão, a musicoterapia se mostra como uma aliada no alcance dos objetivos
relacionados à linguagem, incluindo os distúrbios motores da fala, como a Apraxia, pois através
do uso de seus múltiplos elementos, fortalece e amplia a intensidade vocal, a projeção, controle
do uso da voz, aumento da consciência dos fonemas, conectividade entre as sílabas e palavras,
aumento do tempo de fonação, nuances melódicas e prosódicas da fala e sua dinâmica,
auxiliando assim de maneira eficaz na melhora do quadro dos paciente com Apraxia da Fala
na Infância.
Referência Bibliográfica:
ASHA – AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION. Childhood
apraxia of speech. 2007. Disponível em: https://www.asha.org/practice-portal/clinicaltopics/childhood-apraxia-of-speech/. Acesso em: 24 de Maio de 2020.
ALDRIDGE, David. Music Therapy and Neurological Rehabilitation. 1a ed. London,
Jessica Kingsley Publishers, 2005.
PFEIFFER, Camila e ZAMANI, Cristina. Explorando el Cerebro Musical: Musicoterapia,
Música y Neurociencias. 1a ed. Buenos Aires, Kier, 2017.
SOTTA, Maurício Doff e ANSAY, Noemi Nascimento Musicoterapia na Apraxia da Fala
Infantil. Anais do XX Fórum Paranaense de Musicoterapia e IV Seminário Paranaense de
Pesquisa em: Musicoterapia n° 20 / 2019.
UBAM – UNIÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE MUSICOTERAPIA. Definição
Brasileira de Musicoterapia. 2018. Disponível em:

Definição Brasileira de Musicoterapia

Share:

Leave your comments